Quando Roxana Laura abriu a porta, Radir lhe entregou um sorriso enfeitado por seu mais profundo olhar.
— Oi… Ai caramba! Você está linda! Desculpe o atraso… foi o trânsito… — a suavidade dele, tocou a surpresa dela.
— Não precisa se desculpar — ela sorriu —. Você veio. Tive medo…
— Não acredito…
— Não acredita em quê?
— No seu medo.
— Por que não?
— Porque você… é você!
— Você não acredita em mim? É isso?
— Você não entendeu… Pizza? Fiz essa em sua homenagem — Radir esticou o braço; segurava uma caixa redonda com uma caixa quadrada em cima.
— Hum… você me conhece bem, né?!
— Esse seu perfume…
— Tá… — Roxana o interrompeu —, mas você só trouxe pizza?!
— Claro que não! O que você acha que tem nessa outra caixa?
— Tá brincando que você lembrou?
— Claro que me lembrei! A-bó-bo-ra! Mas… sério… Cheguei tarde?
— Não… Para você, nunca é tarde.
— Ah! Para com isso!
— Sério. Eu pensei em sair, mas…
— Ha! Eu sabia que te encontraria aqui…
— Você é convencido, não?
— Não! É que eu sei… A gente se gosta. Eu sempre sinto sua falta e sei que você sente a minha.
— Cuidado, você pode se enganar… — ela desviou o olhar. — Olha! Você está usando as Havaianas…
— Que você me deu! Acha que combinou com essas calças?
— Sei lá! Chinelo e calça? Quer saber? Não quero pizza! — Roxana arrancou a caixa da mão de Radir, deixou-a cair no chão, próximo à porta.
— Então vamos!
Correram escada abaixo e logo estavam na rua.
Ainda corriam quando ela parou na esquina. Segurou o braço de Radir.
Olharam-se, como se o tempo não fosse o real. A luz azul que vinha do céu escuro brilhava nos cabelos negros de Roxana. Radir olhou nos olhos dela, respirou fundo como quem vai, finalmente, dizer o que há muito guardava para si.
— Puta merda! Esqueci os sapatos! — Roxana apropriou-se do momento.
— Então precisamos voltar. Mas eu preciso falar — as palavras pareciam correr para que ele não tivesse aquilo que lhe é raro novamente roubado — não podemos continuar fugindo.
— Quer saber? Foda-se. Pra que sapatos? Vamos?
— Eu não acredito que você vai embarcar nessa insanidade comigo!
— Que insanidade? Sair sem sapatos?
— Você sabe a resposta.
— Apenas sei o que eu sinto. Você não pode querer que eu entenda a sua loucura. Entender a minha já é tão difícil!
Os dois gargalharam.
Uma lufada vestiu Roxana de um frio tão intenso que ela precisou se esconder nos braços de Radir. Ele a segurou até que ela parasse de tremer. E no ouvido dela, sussurrou:
— Vamos. Não quero ficar parado aqui como se nós não pudéssemos definir nosso futuro e precisássemos esperar que alguém escrevesse por nós a nossa história. Quero ser dono das minhas vontades, responsável por tudo o que crio. Sei que não posso prever o que nos espera, mas posso desejar que tenhamos um final feliz.
— Eu queria ter solução para isso que vivemos. Mas por outro lado, às vezes penso que nem tudo nessa vida precisa ser assim tão direcionado, tão programado. Penso que… — ela saiu da proteção dos braços de Radir e olhou fundo nos castanhos olhos que a fitavam. — Até parece que consigo pensar em alguma coisa. Espere aqui. Vou lá buscar meus sapatos.
Ele a viu se afastar de cabeça baixa. Sentou-se no meio-fio.
Na noite em que Radir e Roxana Laura se amaram pela primeira vez também acertaram as condições do relacionamento. Eles não queriam largar tudo por um amor. O solteiro convicto não queria se amarrar e a mulher casada não pretendia se separar. Mas naquele meio-fio, debaixo daquela lua e com a permanente sensação de tê-la em seus braços, protegida do frio, ele desejou que ela fosse sua.
Exclusivamente.
Sua.
Mas levantou-se. Atravessou a rua e sentou-se dentro do bar, de costas para a porta.
Roxana chegou em casa. A pizza que havia deixado na entrada já não estava lá. A porta que havia deixado destrancada, ela não conseguiu abrir. Tocou campainha, bateu, esperou, e quando, finalmente, viu a maçaneta girar, ela virou.
De costas para a porta.
Em alguns segundos conseguiu rever seu acordo com Radir, seus sonhos e desejos.
Mas estava sem sapatos.
E daí! Para que sapatos?
Por que tanta convicção?
Iluminados pela luz azul do conhaque e comovidos como o diabo, eles se beijaram.
Ela não se separou, ele não se amarrou.
Simplesmente se amaram.
Para todos os amigos que, comigo, compuseram esta história em um trabalho coletivo, via Facebook.
muito maneiro e possivel escrever a mil maos!!! rsrsrsrss
IN-CRÍ-VEL!!! Fiz uma viagem ótima nesse texto…
Amei.Parabéns