Recentemente, em um encontro fortuito com um grande amigo, falamos de educação, desenvolvimento e leitura — além de expressar nossa saudade um pelo outro, claro. Nós dois mencionamos, com certa tristeza, o fato de que há pessoas que não gostam de ler, porque ler cansa, é chato, dá preguiça. Concordamos que é difícil compreender isso — apesar de respeitarmos a diversidade de gostos. Nossos argumentos a favor da leitura foram inúmeros, assim como conseguimos prever alguns vários contra tão delicioso hábito, inclusive a ideia de que ler não é diversão.
E então eu perguntei:
— Será que as pessoas não conhecem, por exemplo, Luis Fernando Verissimo?
Dentre tantos autores bem humorados, Verissimo (o filho daquele outro talentoso Verissimo, o Erico) está em minha lista de favoritos. São crônicas, contos e romances que nos divertem, relaxam e nos fazem esquecer a dureza do dia a dia.
Em duas sessões de leitura matinal li Os últimos quartetos de Beethoven e outros contos. O livro nos faz pensar na hipocrisia do ser humano, nos diferentes universos que compõem nossa humanidade, leva-nos a refletir sobre a mediocridade e a loucura, fala de morte, de sexo e de sensualidade, em dez contos escritos com humor, ironia e crítica, associados a uma linguagem descontraída em cenas divertidas, até mesmo quando trágicas.
Diante disso, dá para argumentar contra a leitura como diversão? Se você ainda não consegue ver divertimento nesse hábito, consuma Luis Fernando Ver!ssimo, sem moderação. Você vai mudar de ideia.
Mas a culpa mesmo, delegado, não é do nariz, não é dela e não é minha. A culpa é da inconstância humana. Ninguém é uma coisa só, nós todos somos muitos. E o pior é que de um lado da gente não se deduz o outro, não é mesmo? (em: “Obsessão”)
Verissimo, Luis Fernando. Os últimos quartetos de Beethoven e outros contos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. 162 p.