Sabe por que estudo e debato questões de gênero; insisto em falar sobre sexualidade; escrevo contra a violência contra a mulher; me expresso em defesa das pessoas que desejam viver felizes ainda que, e sobretudo se, independente de o que a sociedade determina como “aceitável”?
Porque precisamos, todos, olhar na direção de todo e qualquer ser humano.
Para quê? Para entender que vida, amor e felicidade são substantivos que devem pertencer a qualquer um. Mais ainda, para compreendermos que todos merecemos respeito.
O que vemos muda
— ou reforça —
quem somos.
Não há como sairmos ilesos.
Por isso, às vezes
é tão difícil olhar
em determinadas direções.
— Ana Luiza Libânio, em “O povo brasileiro – 2 ato“
Aos que nascem, crescem e permanecem no mesmo ambiente pode ser difícil reconhecer o diferente, muitas vezes, pelo simples fato de não ter acesso à informação que possa abrir seus horizontes. Não há culpa nisso. O problema é quando a informação está disponível, mas o desejo de olhar, pesquisar e entender, não.
É difícil reconhecer a dimensão de o que somos comparada à grandeza do universo. No final das contas, somos nada. Isso é doloroso.
A ignorância é bênção, evita a dor, mas somente a do ignorante. Não admitir modos de vida diferentes e esperar que todos caibam em um só modelo é apagar a individualidade e matar a essência de quem simplesmente deseja fazer viver feliz seu Eu.
Se você olhar para o outro, se viajar por mundos diferentes do seu, jamais sairá ileso desse passeio, porque toda e qualquer interação modifica o significado de nossa existência.
O outro
é uma voz
em constante
diálogo
com a minha.
–Ana Luiza Libânio
Dialogue com o mundo.
Olhe para os lados.
Permita-se enxergar o diferente.
Viaje.
Ponha os pés no chão.
Viva a riqueza do conhecimento, da experiência, da vida.
Essa é a proposta de todo artista que assume o compromisso de criar.
Esta é a responsabilidade de todos os que criamos distintas artes a partir de nossas experiências e com intenção de abrir espaço para o diálogo: provocar.
Em Frente e verso: Visões da lesbianidade as autoras Laura Bacellar, Lúcia Facco e Hanna Korich conversam com leitoras e leitores abertos para o debate sobre a sexualidade feminina, ou, em uma visão mais ampla, sobre a homossexualidade em geral. O livro é uma coletânea de textos que partem da experiência de cada uma delas — ou, da experiência nossa de cada dia — para apresentar questões pertinentes à vida dos homossexuais, mais ainda, questões importantes para o bem estar da sociedade, mas sem doutrinar. Debate-se questões como casamento, literatura, homofobia de forma aberta e a apresentar o que se pensa ser a realidade, mas também de forma a abrir espaço para debater o que está bem a nossa frente e ainda assim esquecemo-nos de observar. Mais que isso, os textos abrem caminhos para a descoberta de o que está no verso, escondido, por medo, insegurança, vergonha.
Frente e verso é livro que educa o olhar, e trabalhos como esse, em uma sociedade que ainda busca o caminho para a equidade, são de grande importância, pelo simples fato de abordarem os tabus de forma clara, direta e imparcial.
Parabéns à editora Malagueta e à trinca responsável por essa obra.
Bacellar, Laura. Facco, Lucia. Korich, Hanna. Frente e verso: Visões da lesbianidade. São Paulo: Editora Malagueta, 2010.