Meu Deus, como podem ser perversos of filhos Seus! —Heleno de Gusmão
Era quinta-feira, 19:52, e estava frio. Na minha biblioteca, da pilha de livros “para ler”, pesquei um.
Era a mesma quinta-feira, 21:00, e estava mais frio ainda. Da cozinha me chamaram para tomar sopa.
Ainda naquela quinta-feira, 23:00, já não estava tão frio. Fechei o livro Nossos ossos, de Marcelino Freire, e preguei nele um post-it:
Escrever sobre este livro. Fan-tás-ti-co!
Eu poderia começar este texto a dizer que Marcelino Freire é pernambucano, nascido em 1967, contista, criador da “Balada Literária”, etc e tal. Mas essa informação você encontra no blog dele. Resolvi então falar de Heleno de Gusmão, autor que, mesmo com a mente cansada, sempiternamente analisa a fundo o mundo “por dentro das palavras, seus significados mais significantes”. Ele é um premiado dramaturgo, nordestino, que, ainda vivendo em São Paulo, começou a escrever sua última peça de teatro. Ela é mais ou menos assim:
“Um dramaturgo de sucesso atravessa o Brasil em um carro funerário, levando, para seu último descanso, o corpo de um garoto de programa com quem ele havia trepado”.
Heleno é um homem sensível, sabe falar de amizade, sabe escrever sobre amor. Sua peça é
coerentemente obedientemente inesitantemente
verossímil
como toda peça de teatro deve ser
“mesmo que a nossa realidade seja esta, absurda (…)”.
Heleno de Gusmão é mais um autor que é ator em cena e que, desejou “quando crescer (…) ser várias pessoas, ir fundo, escrever para [se] sentir, assim, o dono do mundo, o rei dos animais.”
Naquela quinta-feira fria, Heleno me aqueceu com seu texto.
Agora tiro aquele post-it do livro.
Prego nele um aviso:
Eis aqui uma obra
que me levou do choro ao riso.
De vice a versa,
fui de Freire a Gusmão.
Agora, sigo com esta paixão.
Freire, Marcelino. Nossos ossos. Rio de Janeiro: Record. 2013.