Preconceito
Seu disfarce nem mesmo disfarça
as suas distintas
– E longe de serem extintas –
formas.
Esfrega-se em meu rosto.
Arrasta-me.
Espeta-me.
Revolta-me.
Como um gracejo
vestido de inocência
diz-se jocoso,
inofensivo.
Mas quem és tu, oh brincalhão,
para dizer se machuca ou não?
Ainda que sob espessa roupagem,
mata.
Se aparece nu, é logo coberto por plumas
da vaidade daquele que sem entender diz:
“Não sou preconceituoso, apenas não quero isso
perto de mim.”
Ana Luiza Libânio Dantas
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Mulher. Negra. Obesa. 16 anos de idade. Mãe de duas crianças, uma delas portadora da síndrome de Down. Ela, portadora do vírus HIV. Aos sete anos de idade tem seu primeiro contato sexual: com seu pai, também pai de seus dois filhos. Não teve namorado, não tinha amigos. Explorada por sua mãe. Analfabeta. Seu nome: Claireece Precious Jones. Uma mulher, de fato, preciosa.
Precious é personagem principal do romance Push (1996), primeira obra da escritora norte-americana Sapphire – publicado pela editora Record com o título Preciosa. Em 2009, o livro foi adaptado (e muito bem adaptado) para o cinema com o título Precious; roteiro de Geoffrey Fletcher e direção de Lee Daniels.