*” (Frase derradeira de Quincas Berro D’água, segundo Quitéria que estava ao seu lado)”
Morre o homem,
Fica a memória.
Quem era Quincas?
Quem foi Joaquim?
Certa vez, já morto o homem,
Morreu aquele que se diz.
Quincas o marinheiro,
Defunto que sorri,
Foi levado a uma festança
Onde pôs fim ao seu destino
De viver preso em cova rasa,
Morto vivo e infeliz.
Saltou para a liberdade
Onde ainda que morto
Seria feliz
Quincas Berro D’água,
O homem que se diz.
ana luiza libânio dantas
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Quincas Berro D’água: cachaceiro, mulherengo, boêmio e vagabundo. Quincas é o homem que foi Joaquim – funcionário público, pai de família, marido dedicado, homem “de saudosa memória [que] morrera há muito, decentemente, cercado de estima e do respeito de todos”.
Essa é a história em “A morte e a morte de Quincas Berro D’água”, novela de Jorge Amado. Enredada no realismo mágico – escola literária do século XX que tem como principal representante o escritor colombiano Gabriel García Márquez – a narrativa mescla realidade e fantasia, loucura e racionalidade, admiração e desprezo para traçar o perfil do homem e uma definição, ainda que desequilibrada – talvez embriagada – do que seja a vida e a morte. Na bebedeira e na festança, as dicotomias dançam e até mesmo o morto sorri, vive e novamente morre. Mas afinal, o que significa estar morto? Quantas vezes podemos morrer?
Morre-se quando a vida acaba; morre-se quando se é assassinado. Matam-nos quando nos tiram a vida; matam-nos quando nos esquecem, quando nos deixam. Vivemos enquanto o coração bate e o cérebro pensa; vivemos enquanto … vivemos. Enfim, vivemos se vivemos. Joaquim nos ensina: viver é não se deixar ser enterrado, ainda que para isso seja necessário morrer.
Ao se aposentar, Joaquim torna-se Quincas Berro D’água, um homem que curte a vida com seus companheiros e com a cachaça. Por isso, a família faz questão de esquecê-lo, até que uma amiga o encontra morto e sozinho em seu quarto. Eles decidem dar-lhe velório e enterro dignos. O defunto, que não para de sorrir para o mundo, tem sua última chance de divertir-se com seus companheiros de gole: saem todos para uma festa. Durante o passeio de barco, Quincas novamente morre; ele morre um homem feliz e livre da cova rasa onde a sociedade lhe enterraria.
Vale a pena sorrir junto com o defunto de Quincas e divertir-se com ele e seus amigos de bebedeira. Quincas Berro D’água é provavelmente uma das melhores personagens da literatura brasileira. Bem, que seu criador é um dos melhores escritores de nossa literatura é fato notório. Embarque nessa bebedeira, dê um gole da cachaça oferecida por Jorge Amado e viaje com Quincas na divertida história de suas mortes.
Tim, tim!
AMADO, Jorge. A morte e a morte de Quincas Berro D’água. Rio de Janeiro: Record, 2003.
Dedico este post ao meu querido irmão.
(não que ele seja cachaceiro, mas sim alguém que vive e que, para mim, sempre viverá)
Bela poesia e ótima resenha. Parabéns!
obrigada!
Menina, não sabia que vc escrevia tão lindamente! Parabéns!
obrigada, Cristina!