neste hotel
que é a vida,
penso no mundo,
em todo mundo.
ou seria o mundo
o hotel,
e a vida,
aquilo em que penso?
estou de passagem
a mercê do tempo?
ou está o tempo
a mercê dos fatos?
…………………………..
ana luiza libânio dantas
Hotel mundo (Hotel World) de Ali Smith é um romance premiado. Smith utiliza do fluxo de consciência de suas personagens para expor a relação que há entre tempo e vida. Não é cronológico, o texto; inicia-se no passado com um acidente em um dos hotéis da rede “Global”. Em seguida, presente histórico, futuro condicional, perfeito, futuro do pretérito, presente, esses são os capítulos que sucedem à queda do elevador de bandejas do Hotel Global de certa cidade inglesa. Considerada uma escrita pós-moderna, o texto de Smith nos envolve na história de cinco personagens que, descobrimos ao longo da narrativa, têm alguma conexão com o acontecimento que desencadeia uma série de outros episódios.
A queda do elevador não seria tema para esse romance, se Sara Wilby não estivesse encolhida – em posição fetal – dentro dele, rumo a sua morte. Uma brincadeira, uma aposta, segundos que alteraram a vida da menina campeã de natação. De certa forma, como em um “efeito borboleta”, esses segundos – o tempo entre a vida e a morte de Sara – alteraram a vida de sua irmã, assim como a de uma moradora de rua, de uma crítica de hotéis e de uma das recepcionistas do estabelecimento.
“Isto é antes. Isto é agora.” Lise, a recepcionista, faz-me pensar: afinal, quando foi que tudo aconteceu? O tempo me enleia. Quantas vezes já refleti sobre fatos e lancei mão do pretérito imperfeito do subjuntivo: e se eu (não) tivesse… o fato é que… não há fato. Opa! Como não? Entre a realidade e as possibilidades, há uma linha tênue. O agora já é passado e este somente é, porque agora tenho memória. Mas se esta eu não tiver, nada há. Então, fatos somente são fatos se… houver o subjetivo.
“O tempo sempre teve fama de ser enganador. Todo mundo sabe disso (embora seja uma das coisas mais fáceis de esquecer). […] Como o tempo parece caminhar em uma cronologia linear mais ou menos simples, de um momento, segundo, minuto, hora, dia, semana etc., para o outro, as formas das vidas no tempo tendem a ser traduzidas em uma sequência linear comum que por sua vez se traduz facilmente em um significado facilmente reconhecível, ou um sentido.” (p. 101)
Fechei o livro de Ali Smith e fiquei com esses pensamentos em mente. E agora? Não tivesse eu lido esse texto, nada disso me ocorreria.
Boa leitura. Boas reflexões.